Um passeio ao entardecer desde a Praia da Memória até São Paio

Passeio pela costa até ao pôr do sol.

Um passeio da Praia da Memória até São Paio.

1h30 de caminhada e 7 kms pelo Caminho de Santiago português pela costa.


Início do passeio na Praia da Memória.


A Praia da Memória é um dos raros locais entre Leixões e Vila do Conde com excelentes condições para fundear navios e, logo, para desembarques. É provável que esta praia isolada fosse utilizada por piratas que aqui desembarcaram para atacar e pilhar as quintas e pequenas povoações da região, capturando igualmente homens e mulheres para os converter em escravos - facto relativamente bem documentado nas costas portuguesas durante os séculos XVI a XVIII, talvez por isso fosse outrora conhecida por Praia dos Ladrões. A origem da denominação «Praia dos Ladrões» poderá, no entanto, resultar de uma atividade também registada na nossa costa: a montagem de falsos faróis (fogueiras de sinalização) no alto de elevações mais interiores que, atraindo as embarcações para os traiçoeiros rochedos da costa, aí os fazia naufragar. Neste caso os ladrões estavam em terra e saqueavam os náufragos e as suas mercadorias.


Parque de Dunas

A Praia da Memória apresenta um percurso pedestre circular de 1 km com 12 painéis dispersos ao longo do caminho, uma espécie de guia de campo onde pode consultar a informação sobre a diversidade biológica com imagens e comentários sobre plantas e animais comuns que pode observar. O percurso é feito pelo passadiço que protege as dunas que estão em franca recuperação da biodiversidade característica. Vale a pena parar, escutar e olhar ao seu redor.


Parque de Dunas



Dunas marítimas

Habitats muito dinâmicos e frágeis devido à forte exposição, à ação das ondas, marés e ventos. Para além destes fatores naturais, as atividades humanas ameaçam muitas vezes a sua conservação.


O Obelisco da Memória

O Obelisco da Memória assinala o local onde, em 8 de julho de 1832, desembarcaram D. Pedro IV e os 7500 homens do exército liberal, marcando o início do fim do regime absolutista que até então tinha dominado Portugal. Após o desembarque, o Exército Libertador avançou para a cidade do Porto onde ficaria cercado durante 1 ano (Cerco do Porto). O lançamento da primeira pedra deste momento à memória desse acontecimento, ocorreu no dia 1º de Dezembro de 1840, estando presente a Rainha D. Maria II, filha de D. Pedro IV. Depois de várias vicissitudes, o obelisco foi concluído apenas em 1864, tendo sido classificado como Monumento Nacional de 1880.

Existe um cofre no Obelisco da Memória fechado por chave de ouro que guarda o discurso proferido pela rainha D. Maria II na inauguração daquele monumento.


Obelisco da Memória


A flora 

Erva-de-cão

Existente na Europa, no norte de África e sudoeste asiático, A sua flor tem cor amarela e a floração dá-se de maio até agosto. Possui folhas suculentas, com capacidade para acumular água, um bem escasso nestes habitats, é tóxica para os seres humanos.


Soldanella

Distribui-se pelo litoral sul e oeste da Europa com flor cor-de-rosa ou lilás. A sua época da floração vai de abril a julho e o habitat natural são as praias e dunas costeiras, preferencialmente em duna primária e embrionária. Os caules são rastejantes e o porte é prostrado, para se proteger da ação dos ventos fortes.


Eruca-marinha

Distribui-se pelas costas do mar Negro, do mar Mediterrâneo e do oceano Atlântico, desde Marrocos à Noruega e Finlândia. Tem flor de cor branca ou lilás e a sua época da floração vai desde abril a junho. Dá-se bem nas praias, fundamentalmente em duna embrionária e zonas de acumulação de detritos arrastados pelas marés.


Estorno

Planta do litoral da Europa com flor de cor verde clara e amarelada. A sua época da floração vai desde abril até julho. Dá-se bem nas dunas e areais litorais, frequentemente em cristas dunares e dominando a duna primária. Trata-se de erva pioneira, planta fundamental para o aparecimento e fixação das dunas.


Funcho-marítimo

Distribuído pela região atlântica e mediterrânica tem uma flor de cor amarela e a época da floração vai de maio até outubro, O seu habitat são as fendas de rochedos em arribas de esporões litorais, raramente em areia ou cascalho. Quando são esmagados, os caules e folhas têm um cheiro semelhante ao do verniz.


Salsa-das-areias

Está distribuída pelo sul da Europa, Crimeia, Cáucaso, Anatólia e noroeste de África, A sua flor de cor branca ou branco amarelada tem floração entre maio e setembro e o seu habitat são matos arenosos em duna secundária.


Cardo-marítimo

Típica das regiões costeiras da Europa com flor de azul metálico. A época da floração ocorre entre maio e setembro e o seu habitat são as areias litorais em dunas embrionárias e primárias. Com folhas com margens denteadas, espinhosas como as do azevinho revestidas por uma cobertura cerosa que lhes dá uma cor característica verde água ou cinzento azulado e as protege da desidratação e dos efeitos nocivos da areia.


Jasione

Endemismo exclusivo do litoral norte de Portugal com flor de cor azul brilhante a lilás pálido com floração de abril a agosto e o seu habitat são as areias marítimas. Trata-se de espécie protegida por lei.


Morganheira-das-praias

Distribui-se pelo litoral oeste e costa mediterrânica, litoral do Magreb, mar do Norte e Macaronésia (Canárias e Madeira), com flor de cor amarelo-alaranjada e com época de floração entre maio e setembro. O seu habitat são as areias marítimas, principalmente em duna primária e por vezes em duna embrionária. Tem a particularidade de ser uma planta multicaule, ramificada na base, donde partem uma série de caules eretos; quando quebrada produz latex branco tóxico; planta colonizadora de areias nuas.


Papoila-das-praias

Distribui-se pelo norte de África, Macaronésia, oeste da Ásia, Cáucaso e Europa. Tem flor de cor amarela e época da floração entre fevereiro e outubro. O seu habitat são as areias e rochedos litorais e nunca em zonas interiores. Como particularidade são as folhas em roseta e caules geralmente ramificados, uma forma de adaptação típica da flora dunar.


Chorão

Distribuido pelo sul da Europa, oeste dos EUA, Nova Zelândia e norte de África, tem flor de cor amarela, rosa ou magenta claro e tem época de floração entre abril e junho. O seu habitat são dunas e arribas litorais. Como particularidade é um sub-arbusto rastejante, perene e suculento, com caules escamosos, muito ramificados, introduzido originalmente por motivos ornamentais e para fixar as dunas, adquiriu um comportamento invasor.


Avoadinha-do-canadá

Distribuída pela América do norte e central e naturalizada na Europa, Ásia e África ocidental, tem flores pequenas de cor roxa com raios brancos e um centro com flores amarelas. A sua época de floração está entre março e novembro. O seu habitat são terrenos cultivados, areais ou ruderal (que cresce espontaneamente à volta das habitações humanas, em baldios ou em escombros), sendo considerada uma erva daninha.


Tanques Romanos para a Salga de Peixe

Dispersos ao longo de 600 metros pela Praia de Angeiras, encontram-se seis núcleos de tanques, num total de 32 exemplares, escavados nos afloramentos rochosos durante a época romana (séculos III a IV d.C.). Estas cavidades, de formato retangular mas apresentando profundidades diversas, destinar-se-iam à salga de peixe e à produção de outros tipos de conservas de peixe, incluindo o afamado «garum». Junto a alguns destes tanques foram também identificadas estruturas constituídas por pavimentos compostos por seixos e barro e delimitados por pequenos muretes. São vestígios das salinas onde se extraía o sal necessário para a produção da salmoura nos tanques. Pela sua raridade e importância, este conjunto industrial romano encontra-se classificado desde 1970 como monumento nacional.


Rio Onda

O Rio Onda também chamado de Donda, Calvelhe, Labruge ou da Foz, separa as freguesias de Lavra (Matosinhos) e de Labruge (Vila do Conde). Tem cerca de 11,8 Km de extensão e drena uma área de 48,58 km². Atravessa maioritariamente terrenos agrícolas e florestais e apresenta índices bióticos de reduzida biodiversidade. Em tempos, foi conhecido pelas boas pescarias e pela intensa atividade moageira.


Necrópole de Montedouro

A pouca distância, para nascente, da Praia da Memória, na elevação de Montedouro, encontra-se uma necrópole (cemitério) constituída por 5 sepulturas escavadas na rocha granítica, datáveis da Alta Idade Média (séculos IX e XI). É de destacar a sepultura localizada no ponto mais alto do outeiro, de forma ovalada e com rebordo. Nas imediações têm também sido recolhidos diversos objetos que parecem indicar a existência de outro tipo de sepulturas existentes na época (feitas com grandes telhas) e uma ocupação mais vasta desta área desde a pré-história recente até à época tardo-romana e da Alta Idade Média. Esta necrópole de sepulturas escavadas na rocha, é a mais próxima do litoral que se conhece no nosso país.


Ribeira de Pampelido

A Ribeira de Pampelido, com apenas 400m de extensão, atravessa zonas fortemente agrícolas e drenando uma área 0,46 km². Percorre parte do lugar de Pampelido Novo e a foz, atualmente canalizada, localiza-se junto à Praia do Marreco.


Ribeira da Agudela

A Ribeira de agudela é pouco extensa e ramificada e apresenta baixa densidade de drenagem. Percorre parte da freguesia de Lavra, abrangendo os lugares de Gandra, Picoutos e Agudela e vai desaguar entre a praia da Agudela e a Praia do Marreco.


O submarino alemão U1277

Nesta zona marítima, Praia da Agudela, Lavra, a cerca de 30 metros de profundidade, encontra-se afundado um submarino alemão da Segunda Guerra Mundial, o U1277. No dia 3 de junho de 1945, quase um mês após a capitulação da Alemanha, a tripulação desta embarcação de guerra decide simular uma avaria e afundar o submarino em águas portuguesas. Deste modo evitam que a embarcação caia em poder dos Aliados, inviabilizando também o regresso ao seu porto de origem, tomado pelo exército soviético. A tripulação render-se-á no posto da Polícia Marítima de Angeiras, sendo posteriormente aprisionada no Forte de S. João da Foz, antes de ser entregue aos ingleses. O U1277, construído nos estaleiros de Bremen e lançado ao mar a 18 de março de 1944, é hoje o abrigo de uma rica fauna e flora marítimas, sendo um dos principais paraísos do mergulho subaquático nesta costa.


Ribeira do Corgo

A Ribeira do Corgo é uma pequena linha de água com 1,15 Km, sendo 48% dos seus troços regularizados e drenando uma área de 0,8 km². Atravessa maioritariamente campos de cultivo e só apresenta caudal em ocasiões de precipitação intensa. A foz situa-se junto da Praia das Pedras do Corgo.





As Casas de Mar de Angeiras

As Casas do Mar fizeram parte até meados do século XX, da arquitetura tradicional da região e são testemunho das atividades agromarítimas que marcaram a identidade de Lavra até inícios do século XX. Estas estruturas pertenciam às grandes casas de lavoura da região, que também praticavam a pesca de mar como atividade sazonal e complementar da agricultura. Os «moços de mar» guardavam aqui o barco e os utensílios para a faina e para a apanha do sargaço e do pilado (caranguejo pequeno), usados tradicionalmente como um indispensável fertilizante dos campos.


Casas de Mar de Angeiras



A Villa Romana de Fontão

A área de Fontão possui dos mais antigos vestígios do povoamento no concelho de Matosinhos. Os restos de um monumento megalítico em Antela, datáveis do terceiro milénio a.C. e umas fossas descobertas junto à Igreja Paroquial, atribuídas à Idade do Bronze, atestam da grande antiguidade do local. Aqui existiu também uma villa romana, datável dos séculos III 3 IV d.C., como comprovam abundantes vestígios arqueológicos aqui detectados, incluindo colunas e mosaicos. Este local teve uma grande importância durante o período suevo-visigótico (séculos V a VII) sendo uma das paróquias citadas no Parochiale suévico. Um documento do final do século IX refere-se também à existência de um mosteiro em Lavra, já então de fundação antiga.


S. Paio - Ruínas de Habitação

As ruínas de uma construção circular que ali podem ser vistas correspondem ao compartimento de uma habitação, também ela associada a um pátio com uma lareira central. Esta habitação tem a característica curiosa de possuir ainda um pouco de piso decorado com círculos. Tal como as outras ruínas também esta está associada a um lajeado. Neste caso não sabemos se era um caminho ou um pátio da casa.


S. Paio



Misteriosas relações da geologia e da arqueologia

Integrada no Maciço Ibérico, numa área que data do Pré-câmbrico, esta região é geologicamente rica, com afloramentos que nos remetem para eras longínquas do planeta. Nalguns locais, encontra-se coberta por depósitos de praias antigas e evidencia na orla marítima colinas de dunas com 30 a 40 m de altura. Recortada por uma costa com pequenas concavidades e proeminências, a área tem no Castro de São Paio o seu ponto mais elevado. São muitos os vestígios arqueológicos descobertos aqui, desde peças do Paleolítico até a um castro não romanizado, a que se juntam os penedos amoladoiros que podem ser observados na Praia do Castro. Há também uma runa, junto ao marco geodésico, que atesta a passagem de vikings por esta região.


Os penedos amoladoiros

Os penedos amoladoiros foram assim referenciados por Fernando Lanhas. A comunidade científica encara as pequenas depressões naviformes e polidas como marcas de afiar instrumentos de madeira. Seriam pois pedras de amolar. A sua cronologia é ainda uma incógnita mas pensa-se que pode remeter à pré-história. Há pelo menos cinco conjuntos de penedos com marcas similares na praia dos Castros, alguns dos quais estão muitas vezes cobertos com areia.


Uma falha geológica em S. Paio

A praia dos Castros ocupa um espaço que resulta de uma falha geológica (um corte mais ou menos profundo na superfície terrestre). Os geólogos supõem que as arribas que se podem ver nas duas extremidades da praia, correspondem às escarpas de falha criadas pela ruptura da superfície naquele lugar (neotectónica). Pensa-se que o maciço rochoso sul - Alto do Facho - se elevou mais rapidamente do que a Mota, a norte, o que corresponderá a uma tectónica local, um fenómeno raramente comprovado.


São Paio - O entalhe basal

Ou sapa, é uma curvatura existente na rocha resultante do desgaste provocado pelo mar. Algumas vezes as sapas aparecem associadas a restos consolidados de praias antigas. É o caso de uma das sapas do Alto do Facho. As sapas que podem ser vistas na encosta do Alto do Facho em S. Paio foram datadas de há cerca de 125.000 anos e encontram-se a cerca de 9 metros de altitude.

A sua cronologia é similar à de uma antiga praia situada na encosta do Alto da Mota, mas que se encontra apenas a 5 metros de altitude. São estes valores que indiciam a existência de um movimento vertical do solo com diferentes ritmos entre o Alto do Facho e o Alto da Mota - aquilo a que os cientistas chamam neotectónica.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Cascatas de São João do Porto

Cafés Christina

SANZALA Cafés